Há dois anos que não vejo a vida da mesma forma

Alessandra da Veiga
2 min readMar 20, 2024

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Arquivo pessoal

Amanhã fazem dois anos desde que você partiu, dinda, e ainda é inevitável pensar em alguns momentos acrescidos de “e se”.

“E se você estivesse na minha formatura?”, “E se você fosse ao meu casamento?”, “E se você conhecesse a neta que nasceu há quase 1 ano?”.

O luto é um momento em que tudo vira sombra. A percepção de mundo vira de cabeça para baixo, como se a sua bússola da vida perdesse o campo magnético e apontasse para qualquer lado, menos para o norte.

Pegar a estrada do luto é inevitável. Todos, um dia, passarão por ela. E como uma sobrevivente, afirmo: essa é a viagem mais dolorosa e devastadora.

De uma hora para outra, as coisas simplesmente param de fazer sentido sem aquela pessoa que foi embora sem avisar.

Assim, sem hora marcada, você, dinda, desligou o celular e eu ainda fico aqui a pensar: “Cê também podia me ligar de vez em quando”.

Passei pelas fases do luto — negação, raiva, barganha, depressão e aceitação — sustentada a uma única verdade enquanto via a cor de mesus dias ir embora: que minha madrinha gostaria que eu continuasse a caminhar.

Embora minha vontade de fazer qualquer coisa fosse mínima, eu fiz mesmo assim porque tinha pessoas ao meu lado que me ajudaram, seja com palavras de esperança, seja com um ombro amigo para eu dividir a dor que em mim ficou.

Chega uma hora — pensando bem agora, não consigo me lembrar quando foi o momento certo — que o fardo fica mais leve a ponto de você não se recordar que, um dia, pesou.

As manhãs voltam a ser mais agradáveis, o entardecer retoma a sua cor e a vida segue o seu curso. No final, lembrar já não dói tanto.

A verdade é que a gente se acostuma com a falta: a falta de falar no telefone, a falta de uma mensagem de bom dia e a falta de contar as novidades. É a partir daí que começam os vários “e se”.

Desde o dia 13 de outubro de 2021, minha vida virou um grande “e se” depois que ela se foi.

Algumas coisas perderam a graça e demorou pra que eu visse a vida com as mesmas cores e alegria que eu via antes. Talvez eu nunca mais veja.

O texto que você acabou de ler foi escrito em 13 de outubro de 2023, mas ainda vale para 2024, 2025 e todos os outros anos que viverei sem a minha madrinha.

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Alessandra da Veiga

Escrevo. Poeticamente e profissionalmente. Sou jornalista e redatora SEO, mas aqui escrevo o que eu quis dizer. Do meu coração para seu dispositivo móvel.